top of page

Supremo Rock Entrevista: Canto Cego

x2017_19_13_canto_cego_002_pos1_deitada-

CANTO CEGO é o rock em sua essência somado à delicadeza da poesia. A banda começou seu processo criativo em 2010, na favela da Maré, lugar que inspirou o nome e a direção social e urbana de suas canções. O grupo coleciona os prêmios de 1º lugar do Festival da Nova Música Brasileira (2012) e do Planeta Rock (2014). Já subiram aos consagrados palcos do Circo Voador, Teatro Rival e Imperator, ao lado de bandas como Detonautas, Biquíni Cavadão, Ira, Fresno e Ultraje a Rigor. Em julho de 2015, foram convidados para o Montreux Jazz Festival, na Suíça, onde realizaram uma pequena turnê. Em 2016 a banda lança seu disco de estreia "Valente", gravado no estúdio Toca do Bandido, com produção de Felipe Rodarte e engenharia de som e mixagem de Pedro Garcia. O grupo segue se apresentando pelo Brasil, tendo em 2017 realizado shows em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, João Pessoa, Mossoró e Fortaleza.

  • Facebook Grunge
  • Twitter Grunge
  • Preto Ícone Instagram
  • Preto Ícone Spotify
  • Youtube Grunge

Sabemos que a Canto Cego teve início em 2010, na favela da Maré e a banda sofreu algumas alterações desde a sua primeira formação. Como foi escolhido o nome da banda e como foi o processo para chegar à formação que está agora?

A gente queria que o nome tivesse uma relação com a favela, na época a Maré estava sendo cercada por tapumes de proteção acústica, uma espécie de parede que contorna a comunidade. Isso dava mais uma sensação de estar aprisionado do que protegido. E chegamos ao nome Canto Cego, que definia aquela sensação e ao mesmo tempo trazia uma poesia e diversas interpretações. O processo da formação é o mais difícil na história de qualquer banda, eu acho, mas foi acontecendo naturalmente, as prioridades chegam e as pessoas precisam escolher caminhos pra vida. Aí, quem não quis ficar seguiu seu caminho e quem quis ficar, ficou!

A Canto Cego possui uma identidade muito forte! Mergulha na poesia e a mistura com o Rock da melhor maneira possível. Gostaríamos de saber como é o processo de criação das músicas de vocês, tanto na composição das letras, quanto em arranjos. Contem pra gente!

Tem vários jeitos, e isso define um pouco a essência de cada música. Normalmente fazemos um improviso doido e por cima vou testando vozes, até que uma hora a coisa se encaixa e começamos a repetir as estruturas e definir a letra até formatar a música. Normalmente é assim. Mas tem músicas que eu faço no violão e mostro pra banda e a gente arranja. Tem outras que eles chegam com uma ideia mais pronta de instrumental e vou criando a melodia por cima. 

Vocês já tem na coleção dois prêmios o lugar do Festival da Nova Música Brasileira, em 2012 e do Planeta Rock, em 2016). Como foi pra vocês conseguir essa marca tão importante e qual foi a sensação de ganhar cada um desses prêmios? 

Cada um desses festivais foi fundamental na nossa história, todos eles tiveram um papel de motivar e mostrar pra gente mesmo que valia a pena continuar. Sem dúvida uma emoção ter conquistado esses prêmios.

Em 2016, a Canto Cego lançou o álbum “Valente”, com 12 faixas. A ideia inicial era lançar um EP em 2014, mas vocês decidiram esperar um pouco mais e lançar um CD. Como foi, na época, a tomada dessa decisão? E como foi o processo de gravação do CD e o que vocês levam desse momento?

Na verdade todo esse processo de gravação é bem demorado, principalmente porque os custos são altos e por uma questão de viabilidade a gente precisou prolongar o processo todo. Mas quando estávamos prestes a lançar o EP, entendemos que não fazia mais sentido depois de 5 anos de banda lançar um material tão curto. Aí respiramos fundo e entramos em processo de novo pra gravar mais canções e por fim lançar o disco. Pra gente foi a realização de um sonho, foi concretizar todos aqueles anos de conquistas num objeto tão especial pra gente.

No “Valente”, vocês fizeram a regravação da música “Zé do Caroço”, que é um grande clássico da Leci Brandão. Vamos juntar dois momentos! Regravação da “Zé do Caroço” e conhecer a Leci Brandão pessoalmente... O que significou ter essas duas grandes experiências? 

A Leci é uma força da natureza. De uma simplicidade e uma presença encantadoras. Encontramos com ela após um show no Rio, ela foi super atenciosa com a gente, ficou agradecida em saber que teve mais uma regravação de Zé do Caroço. Imagina, agradecida!? A gente que agradece. Depois convidamos para o clipe e para dar um depoimento sobre a música e ela topou sem problemas. Essa música é um marco na nossa história porque ela sempre chama atenção de diversos públicos, e parece que é feita pra gente mesmo dizer e cantar e falar e quase recitar. É uma letra muito real e que mexe com os sentimentos. Somos muito gratos a ela.

Vamos falar mais um pouquinho sobre o “Valente”! Como foi o primeiro contato de vocês com o músico Marcelo Yuka? E como foi para a banda, ter uma composição desse grande artista em seu primeiro álbum, que é a “Eu Não Sei Dizer” e ainda poder compor uma música junto a ele, que é a “O Dono da Ordem”? 

O Yuka é um compositor que a gente sempre admirou e tinha uma vontade de trabalhar junto. Nosso produtor musical, o Felipe Rodarte, conhece ele de longa data e nossa produtora na época, a Jô Rocha, também já tinha trabalhado com ele. Então foi só mesmo uma questão de saber se ele queria fazer alguma coisa juntos e marcar um encontro. Primeiro fomos lá para uma conversa, e depois fomos para criar. Depois que a música começou a fluir ele abaixou a cabeça e escreveu num papel “Eu não sei dizer” toda de uma vez com melodia e tudo. Inacreditável. Depois ficou um esboço de um instumental extra que eu fiz a letra e a melodia e virou “O Dono da Ordem”. A gente nem acreditou que fluiu tão bem. Uma honra ter essa parceria no nosso disco.

O que vocês tem a falar sobre a cena atual do rock nacional? 

A gente vive um momento muito rico, muito efervescente, de muitos artistas aparecendo e se consolidando na cena da música de uma maneira geral. Acho que a cena dos festivais também está muito articulada e ajudando na circulação de tantos artistas pelo Brasil. A gente tem acompanhado com uma certa euforia. Mas ao mesmo tempo é um momento muito delicado e digamos assim, imprevisível. O cenário político parece que não vai querer estimular a economia criativa e isso pode mudar um pouco o rumo das coisas. Atualmente estamos bastante preocupados com isso, mas na fé de que as coisas não vão parar, afinal se reinventar com a dificuldade é uma coisa que a produção cultural brasileira é mestre.

Quais são as influências musicais de cada integrante da banda e o que cada um leva disso para o seu dia-a-dia com a Canto Cego? 

A gente se inspira muito na música brasileira, desde as criações mais antigas até as mais recentes. Acho que é isso que a gente sempre quis levar pra banda. Temos uma escola do rock, de sermos rockeiros com todo o background dos anos 70, 90, até bandas mais pesadas e contemporâneas. O Rock é como uma base pra gente compor nossas emoções, e na hora de dar cor a esses arranjos cada vez mais é a música brasileira que manda na gente. 

A Canto Cego já esteve em casas de nome importantíssimo na cena do Rock no Rio de Janeiro, como o Circo Voador, o Imperator, o Teatro Rival, entre outros. Também fez um Tour por São Paulo e pelo Nordeste. Dentre todos os shows da carreira da banda até hoje, qual foi o mais marcante e por quê?

Tiveram muitos! O Festival de Montreux, na Suíça, com certeza foi o mais impactante por ser em outro país e pela experiência toda. Mas nosso show de lançamento do Valente no Imperator foi muito especial. O primeiro show no nordeste na Casa Preta em Salvador. Alguns shows que fizemos na Baixada no Roque Pense, em Mesquita na Semana do Rock. A primeira vez que tocamos no Circo Voador. Nossa, são muitos. Cada show tem um gosto especial é importante pra gente não perder também essa energia de cada momento.

 

Vocês lançaram o clipe da música “Eu Não Sei Dizer”, que como foi dito antes, foi composta pelo músico Marcelo Yuka e faz parte do álbum “Valente”. A música fala sobre os sentimentos de uma criança que não sabia o que falar após presenciar a chacina que ocorreu em uma escola pública situada em Realengo, em 2011. O clipe foi gravado na Comunidade do Canal em Vargem Grande. Por que escolheram esse local? Diante de um tema tão delicado, como foi o processo de gravação do clipe e qual é a importância, pra vocês, de poder retratar esse assunto? 

A gente grava os nossos clipes de uma forma bem independente com baixíssimo orçamento. Então mesmo que as ideias surjam a gente sempre depende de oportunidades para realizá-las. Tínhamos uma diária com um drone, e a ideia de um plano sequência em uma comunidade com a banda tocando na laje. Só que era muito difícil organizar pra banda tocar na laje e pro drone passar sem ser interceptado, principalmente nas favelas maiores. Aí conversando com um amigo, o Dudu Valle (Medulla), ele comentou sobre a comunidade do canal que era perto da casa dele. Então conseguimos com uma moradora a permissão de usar a laje e ficamos com a base na casa do Dudu, levando as coisas nas costas e montando tudo e gravando algumas vezes. Foi muita correria, mas deu certo! Pra gente é como uma obrigação tratar de assuntos tão delicados mas que precisam ser falados, de certa forma, acreditamos que botar essa angustia ou raiva pra fora ajuda a aliviar o peso da realidade encarando de frente o peso desses fatos.Acho que foi ter ganho o Rio Banda Fest com prêmio do júri e público num circo voador lotado, acho que fora a competição, ter o apoio de tanta gente (isso coloco as pessoas que julgaram), nos deu muita força e frutos também. 

Como foi para vocês tocar no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça?

Como falei antes, foi uma das experiências mais marcantes da banda. Porque teve toda uma experiência de viajar pra fora do país e tocar, e mostrar nosso som e ser tão bem recebido. Foi muito incrível. Uma experiência de vida mesmo.

Se pararem pra pensar em tudo o que a Canto Cego já passou, do início, até hoje, o que vocês aprenderam com oito anos de estrada? Qual foi o momento mais complicado da carreira e a maior realização da banda?

Ixi, acho que é mais fácil dizer os momentos que não foram complicados (risos). Porque é um desafio muito grande manter uma banda independente em atividade. Tiveram momentos de muita euforia mas também de muita decepção, principalmente depois do auge vem logo a depressão. E a gente tá meio que se acostumando a essa montanha russa, calejando o coração. A maior realização hoje é estar no line-up do Rock in Rio, com certeza. Mas cada show que a gente realiza é uma conquista. Cada turnê, cada data. Acho que o mais complicado é quando muda o produção, quando muda um integrante, ou quando temos que nos adaptar demais as adversidades. Também acontece de você botar uma alta expectativa num projeto e ele não retorna o que você esperava, daí tem que lidar com toda frustração. Mas é tudo um aprendizado.

A Canto Cego foi anunciada como a primeira banda que vai se apresentar no Espaço Favela, no Rock in Rio, na edição de 2019. Como foi receber essa notícia e qual foi a primeira reação de vocês? É uma grande conquista para a banda, então, o que esperam desse momento e qual é a sensação de saber que em pouco tempo a Canto Cego vai estar no RiR?

Pra gente foi uma grande surpresa. Um presente do universo, a gente realmente não quis acreditar que ia rolar pra não se iludir, mas quando recebemos a confirmação foi só alegria. É mais uma sensação de estar sendo reconhecido depois de tanto tempo e que estamos no caminho certo. Vai ser um marco na nossa carreira, com certeza.

Além da apresentação no Espaço Favela no Rock in Rio de 2019, quais são os planos da banda para 2019? Podem contar alguma coisa pra gente? 

Sim. Temos muitos planos, e o desafio vai ser realizar todos eles no próximo ano. Mas queremos gravar e lançar músicas novas. Isso é o principal. Estamos se coçando por esse momento! Queremos lançar muito material novo pro ano que vem. 

A equipe da Supremo Rock Multimídia agradece muitíssimo a Canto Cego por ter aceitado responder as nossas perguntas e deseja muito sucesso a banda! Parabéns pelo trabalho realizado com tanta perfeição! Obrigado por nos ajudarem a somar na cena do Rock no Rio de Janeiro! Deixamos aqui um espaço para que vocês mandem um recado para todos os fãs da Canto Cego...

Ô! Obrigada o carinho de vocês, pela entrevista. A todos nossos fãs, não deixem de acompanhar nossas redes sociais e espalhar as novidades. Pra gente é crucial nesse momento estar conectado com as pessoas que nos amam. Vai ter muita novidade boa vindo por aí!

Entrevista Por: Luciana Rodrigues

Eu Não Sei Dizer

Clipe Oficial

bottom of page